sexta-feira, 16 de março de 2007

Bom dia, hoje é sexta, dia de descanso, namoro, final de semana, cineminha, liberar o regime, dormir até tarde, tanta coisa boa.

Li o texto abaixo no UOL. Achei tocante e daqueles que faz a gente gostar tanto do que tem.... e se você, quando começou a ler este post, já pensou: "que alegria que nada, eu não tenho namorado, eu não posso dormir até tarde pq vou trabalhar no fds, não posso sair do regime, não tenho dinheiro para cinema, restaurante, etc....".... Pode parar de reclamar.... lendo o texto abaixo duvido que você terá motivo para reclamar dos seus problemas, e também duvido que terá a humildade de ser tão feliz com tão pouco. DESAFIO ein??? Para todos nós, inclusive eu!

"Antes de reclamar das coisas que você está perdendo, verifique o que vai ocupar o lugar que elas deixaram vago. Pode ser algo muito mais importante e enriquecedor."

16/03/2007
Um dia de espera e deslumbramento de um garoto iraquiano

Moni Basu
em Ayn Ash Shababit, Iraque

Quando os jipes Humvee entram na aldeia, Anwar é um dos primeiros a saudar os soldados da Geórgia. Americanos significam uma coisa para ele: presentes.

E hoje há algo especial para o menino de 13 anos.

Os soldados da Companhia H, 121ª de Infantaria, com sede em Atlanta, adotaram a população desta aldeia, que fica escondida fora da principal estrada que liga a cidade de Tal Afar, próxima da base da unidade, à fronteira síria.

Um aglomerado de casas de tijolos e barro ligadas por trilhas de terra e com o odor de esgoto a céu aberto, Shababit é lar de cerca de 100 famílias. Elas estão sem eletricidade há 21 dias. Quando os aldeões têm energia, é apenas por uma hora ou duas por dia.

A população daqui é desesperadamente pobre; muitos dos homens são diaristas que fazem qualquer coisa para colocar comida na mesa. As crianças vestem roupas usadas em farrapos; poeira cobre seus rostos.

Abdul Hamid, um engenheiro elétrico, disse que a maioria das crianças é órfã vivendo com parentes. Elas perderam suas mães e pais para as bombas e balas que atingiram a vizinha Tal Afar, uma das cidades mais sangrentas do Iraque antes das forças americanas sufocarem a insurreição em 2005.

Anwar, felizmente, não é um órfão. Ele vive com seus pais e quatro irmãos e três irmãs. "PI, PI", ele diz orgulhosamente, apontando para seu irmão mais velho, Hassan, que trabalha para a polícia iraquiana.

Em seu agasalho castanho-avermelhado e tênis de menina, Anwar está ansioso enquanto os soldados descarregam as caixas de papelão marrons dos caminhões. Ela mal pode esperar para ver os presentes.

A esposa do cabo Patrick Heffernan, Andie, e a mãe do primeiro tenente Brooks Askew, Judy, coletaram os itens em Atlanta e os enviaram para a unidade na Base Sykes para distribuição para as crianças. Heffernan, 30 anos, um designer gráfico de Atlanta, deseja ter seus próprios filhos: dois meninos e uma menina.

Ele diz que se orgulha de sua esposa estar tão envolvida com as crianças de Shababit. A família de Andie fugiu do Vietnã, com os refugiados. De forma que ela entende, diz. "Ela faz estas coisas por conta própria."

Anwar rodeia os homens. Seus dentes muito manchados parecem os de um velho que mastigou uma vida inteira. Mas Anwar provavelmente nunca sentiu a sensação de uma pasta de dente em sua boca.

No calor da aldeia, os soldados ordenam que as crianças formem duas filas atrás de uma mesa de plástico ao ar livre. Quando a barreira de linguagem causa confusão, a professora local ajuda a formarem a fila.

Anwar guarda seu lugar, mas não consegue ficar parado. O menino mal consegue conter a empolgação. No passado, presentes da Companhia H incluíam material escolar, roupas e doces. Desta vez, meninas e meninos receberão presentes diferentes.
Para as meninas, animais de pelúcia.

Para os meninos, bolas de futebol.

Anwar está impaciente. Ele precisa esperar que se encham as bolas com as bombas manuais. Cada uma leva alguns poucos minutos. "Este é o motivo pelo qual entrei no Exército", brinca o cabo Ryan Hern, um corretor hipotecário de Roswell, ao pegar uma bomba.

Paciência não é uma virtude infantil. Anwar vai e vem ao redor dos soldados, pedindo, implorando. Heffernan lhe diz para esperar sua vez.

A cena parece saída diretamente de um concerto de rock fora do controle.

Uma correria pode ocorrer a qualquer momento.

Quando Heffernan entrega sua primeira bola preto e branca reluzente, Anwar deixa seu lugar na fila e corre para a frente. O sargento Billy Massingale, um ex-dono de restaurante de Oglethorpe, o repreende e o devolve ao seu lugar na fila.

"América não boa", diz Anwar.

"Olha que você vai parar no fim da fila", responde Massingale.

"Ok, Ok, América boa", reconhece Anwar.

No Iraque se aprende a tomar partido por conveniência.

As crianças se amontoam. A empolgação do momento ilumina seus rostos. Alguns têm traços tão impecáveis, olhos azuis e cabelos loiros que poderiam aparecer em propagandas na TV americana.

"Eu adoraria mostrar a estas crianças como a vida poderia ser", disse o especialista Sheppard Bowen, que trabalha na fazenda de paisagismo ornamental de sua família, perto de Cartersville.

Mas as crianças em Shababit provavelmente nem conseguiriam imaginar a Geórgia. Nesta aldeia rústica, a vida muda pouco com o passar dos anos.

Os jovens iraquianos freqüentam escolas que carecem de lápis e papel. Elas não têm roupa de cama com temas da Disney nem baús cheios de brinquedos. Elas não têm aulas de dança nem vão ao cinema nos fins de semana.

Ocorre um pandemônio à medida que cada menino teme que o estoque acabe antes que receba sua bola. Após 45 minutos, Anwar finalmente chega até a mesa. Mas a caixa está vazia.

Ele fica com um ursinho de pelúcia destinado a uma das meninas. "Certo, é isto ou uma bola de futebol", lhe diz Massingale. "Qual que você deseja?"

É uma escolha difícil para Anwar. Ele não sabe se os soldados trarão mais bolas de futebol. Se não pegar um animal de pelúcia, ele acabará sem nada?

A vida aqui sempre envolve risco.

Anwar rejeita o ursinho de pelúcia e aguarda, suas mãos agarrando firmemente a borda da mesa de plástico. Ele fica aliviado quando Hern chega com outra caixa.

Finalmente Anwar abraça sua bola de futebol. É apenas uma simples bola de futebol preto e branca, uma das 250 enviadas aos soldados da Companhia H, do tipo que pode ser comprada por uns poucos trocados na Target ou no Wal-Mart.

Mas agora, esta é a bola de Anwar. Ela é seu pote de ouro.

O som das bolas quicando ecoa por Shababit.

Anwar exibe sua técnica de drible. "Eu sou esportista", diz em inglês com dificuldade. Então corre para casa para guardar seu tesouro.

Quando os soldados partem à tarde, Anwar já está na entrada de sua aldeia melancólica. Ele está aguardando pacientemente para se despedir com acenos.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Um comentário:

Renata Almeida disse...

Nao li o texto. Mas, a mensagem grifada de cor diferente foi pra mim!
Escrevi no blog.
Beijos!!!!